Já escrevi, num post de 2007, o quanto eu gosto de conjunto vocais. Falei da minha simpatia pelos
Cariocas e pelo Boca Livre, mas ressaltei que minha preferência sempre foi o
MPB4. No texto de 8 anos atrás, eu falava do quanto me desagradou a saída do
Ruy, substituído por Dalmo Medeiros, o que descaracterizou a sonoridade do
grupo.
A sonoridade do MPB4,
aliás, foi o que sempre me seduziu. Enquanto eu achava que Os Cariocas abusavam
do uso de falsete, o som do Boca Livre me parecia, às vezes, um tanto meloso,
sem falar do repertório, com o qual tinha um pé atrás. No caso do MPB4, o
repertório me parecia irrepreensível.
Voltando à sonoridade
do grupo, a principal razão da minha preferência eram os arranjos vocais, quase
sempre a cargo do Magro. E agora, desde 2012, com sua morte, este som,
definitivamente, não tem mais chance de voltar a soar. Por mais contraditório
que isso possa parecer, o que me agradava em seus arranjos era a incidência dos
trechos em uníssono que ele utilizava nas canções. Em geral, os arranjadores
vocais fazem exatamente o contrário, ou seja, harmonizam cada nota da melodia
com um acorde, de forma que, em grande parte das vezes, o resultado fica pesado.
O que o Magro fazia era justamente usar o canto em uníssono para ressaltar belos
acordes, quando, realmente, eles pudessem ter um efeito especial.
Este tipo de detalhe
sempre me interessou e, por isso, foi com grande entusiasmo que comprei o livro
Vozes do Magro, lançado ano passado. Nele, o maestro comenta detalhes dos
arranjos de cada faixa dos primeiros 14 discos do grupo, ou seja, a primeira
metade de sua discografia. Felizmente, os meus discos prediletos (Cicatrizes, Palhaços e Reis, 10 anos
depois e Canto dos Homens) encontram-se
nesta relação, até porque, minha preferência recai justamente nesta fase do
quarteto.
Entremeando dados
técnicos musicais e detalhes das gravações com “causos”, alguns pitorescos, o
autor não se furta em reconhecer deslizes, revelando os arranjos que, em sua
opinião, não ficaram tão bons, seja por falta de competência, seja por
preguiça. Esta sinceridade acaba por enriquecer mais ainda os comentários.
Entre um disco e outro, entre uma faixa e outra, o livro vem recheado de
depoimentos de artistas que privaram da convivência com o Magro e o MPB4.
No fim do livro há,
ainda, uma série de partituras com os arranjos do maestro com alguns dos
sucessos do grupo que, por mais de 40 anos, embalaram meus sentidos e o de
muita gente de minha geração.
Resistindo, pra não
perecer, o MPB4 convidou Paulinho Malaguti para substituir Magro no grupo e
assumir a responsabilidade pelos arranjos. Malaguti fez um trabalho competente
como arranjador dos grupos Céu da Boca e Arranco de Varsóvia, mas, como eu já disse
em meu texto de 2007, nunca me interessei por conjuntos vocais mistos. Se já
era difícil eu me interessar pelo som do MPB4 sem o Ruy, imagine agora, sem os
arranjos do Magro. Definitivamente, as vozes do MPB4, para mim, se calaram. Fica,
enfim, a consolação de poder ouvir os seus discos antigos.