Sei que há quem vai estrilar com
o título deste post, inaugural, do blog em 2015. Já me explico: após o anúncio
do novo ministério de Dilma, não consigo manter o ânimo e nem reconheço
continuidade no modelo de governo que ela tentou imprimir no primeiro mandato. Se
nesta primeira tentativa os avanços sociais já foram tímidos, a configuração do
ministério atual mostra uma inclinação mais acentuada para o lado direito do
espectro político, o que dificulta mais ainda estes avanços. Desta forma, a
razão da minha crítica vai na direção contrária à de quem votou no projeto
tucano, nas eleições do ano passado.
Estas últimas eleições, aliás, me
causaram mais descrença na raça humana do que as anteriores. A participação do
eleitorado, via redes sociais, mostrou o quanto a veiculação (e multiplicação)
de dados falsos se sobrepôs à desejável discussão conceitual do que cada um
entende como mais apropriado pra nossa sociedade. A enxurrada de manifestações de
intolerância com as opiniões adversas beirou os limites do intolerável, com o
perdão do trocadilho infeliz.
O que ficou evidente, de lado a
lado, foi o claro posicionamento dos eleitores do lado direito e esquerdo do pensamento
político. Mais do que as próprias candidaturas, imbuídas do pragmatismo típico
das campanhas, as manifestações dos eleitores foram bastante reveladoras da posição
de cada um, nem sempre de maneira respeitosa.
Passado o ápice, com a revelação
do resultado das urnas e, talvez devido à estreiteza da diferença de votos,
restou, entre os eleitores, um ranço de rancor de difícil digestão. De minha
parte, encaminhei minhas reflexões para o tema da dicotomia esquerda-direita e
para auxiliar-me, recorri ao pensador Italiano Norberto Bobbio e seu livro Direita e Esquerda – Razões e significados
de uma distinção política. Escrito há 20 anos, durante a campanha eleitoral
italiana de 1994, este pequeno livro, como o próprio autor se refere a ele, é
absolutamente atual e aderente à realidade brasileira de hoje.
A primeira metade da obra
dedica-se à tarefa de justificar a continuidade do uso da díade direita-esquerda
na política, em resposta às inúmeras tentativas de desacreditar esta divisão.
Após comprovar a pertinência de seu uso, trata de definir o que caracteriza
cada um dos pensamentos na segunda e mais instigante parte do livro. Nela, o
pensador italiano demonstra que o que caracteriza o pensamento de direita e o
de esquerda não é a questão da presença maior ou menor do estado na economia e,
portanto, na vida das pessoas e nem a questão da democracia ou autoritarismo de
um estado.
A conclusão a que o livro chega é
muitíssimo parecida com a minha concepção, ou seja, o que define um pensamento
de direita ou de esquerda é o que se refere à questão da igualdade entre as
pessoas. Faz uso, para isso, de uma eficiente comparação entre os pensamentos
de Rousseau e Nietzsche no que diz respeito à distinta postura que um e outro
assumem perante a naturalidade e a artificialidade da igualdade e da
desigualdade. Com isso, acaba por mostrar que ambas as posições, direita e
esquerda, são lícitas, expressando a ideologia de cada um.
O livro toma o cuidado de
demonstrar como as posições extremas, tanto de um lado quanto de outro, têm
similaridades. Faz isso aproximando a díade direita-esquerda de outra, qual
seja, a que contrapõe liberdade e autoridade.
Concluo, assim, que a concepção
moderna de um pensamento democrático de esquerda é a que defende um estado que
garanta um mesmo grau de oportunidades e que, para isso, conte com uma oferta
de educação, saúde e segurança igual para todos. Arrisco-me, ainda, a concluir
que, na prática, o que mais se aproxima deste conceito é a Social Democracia.
Pensando em tudo isso, após a
leitura de suas poucas 130 páginas, eu fico a imaginar o quão difícil é
encontrar, dentro do balaio de partidos políticos que temos no Brasil, alguma
proposta que seja, verdadeiramente, de esquerda e democrática.
Entre os partidos mais
hegemônicos, temos o PSDB que é Social Democrata apenas no nome, mas, na
realidade, defende um modelo liberal. Temos o PT que tem um discurso Social
Democrata, mas não se assume como tal. Temos o PMDB que representa o que há de
mais fisiológico e arcaico na forma de fazer política e os partidos nanicos, à
esquerda e à direita que, mais que qualquer outra coisa, servem para emprestar
suas legendas aos partidos maiores nas épocas de eleições.
Enfim, não há nada no horizonte
que consiga me animar.
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