Há muito tempo que o cinema
espanhol me encanta. Sem contar Luis Buñuel, o encantamento começou com as obras
de Pedro Almodóvar e Bigas Luna. Filmes como Ata-me, Mulheres à beira de
um ataque de nervos e As idades de
Lulu, ainda nos longínquos anos 90, me seduziram definitivamente. Devo
confessar que a sedução foi suportada pela beleza e pelo carisma de atrizes
como Victoria Abril, Carmen Maura, Rossi de Palma e Maria Barranco. Depois, com
Belle Époque de Fernando Trueba,
conheci, numa só tacada, Penélope Cruz, Maribel Verdú e Ariadna Gil. Mais
tarde, conheci Paz Vega. Aí foi covardia. Fiquei completamente dominado.
Aos poucos, fui
conhecendo diretores como Alejandro Amenábar, Emilio Martínez Lázaro, Julio
Medem, Vicente Aranda e Fernando León de Aranoa e descobrindo filmes como Abre los ojos, Mar adentro, Los peores años
de nuestra vida, El otro lado de la
cama, Lucía y el sexo, La pasión turca, Los lunes al sol, entre muitos outros, sempre com interesse renovado.
Eis que, nesta semana,
descobri, gravado da TV a cabo, o filme Enquanto
você dorme (Mientras duermes), do
diretor Jaume Balagueró, com Luis Tosar e Marta Etura. (veja o trailer do filme)
Trata-se de um triler
envolvente que prende a atenção do espectador desde o primeiro instante e não
lhe dá trégua até o final da trama. Luis Tosar eu já conhecia de outro filme, Segunda-feira ao sol, em que atuou ao
lado de Javier Barden. Marta Etura, apesar da filmografia relativamente
extensa, eu não conhecia, mas foi uma grata surpresa. Uma delícia de moça.
Apesar de ficar claro,
logo no início do filme, a motivação do protagonista, mesmo após o término da
trama, ficamos sem entender como alguém pode ter aquele mote na vida. E esta
dificuldade de entendimento não é culpa do filme. É culpa da complexidade da
espécie humana.
Cesar é o funcionário
de um prédio em Barcelona (poderia ser Madrid, São Paulo ou Campinas) que tem
como objetivo destruir a possibilidade das pessoas à sua volta serem felizes.
Ele nunca foi feliz, mas não age desta maneira por inveja. Se fosse isso, seria
mais fácil entender, por mais comum. Na verdade, ele nunca foi feliz porque nunca
buscou isso, não tem este desejo. A sua infelicidade não o incomoda. O que o
incomoda é a felicidade dos outros. Desta forma, ele não age na tentativa de ser
como as outras pessoas, mas, sim, no sentido de que elas sejam como ele é.
Só o ser humano, entre
todas as espécies, é capaz de agir assim. Isso não deveria surpreender, já que é
o único, entre as espécies, capaz de se vingar ou de escravizar alguém. Não
deveria surpreender, mas surpreende, como sempre ocorre, na maior parte das
vezes, negativamente.
Um dado interessante é
o fato do diretor ser catalão, o ator protagonista ser galego e a atriz ter
nascido no País Basco, o que mostra que, apesar das diferenças de identidade
cultural, os espanhóis, unidos, conseguem produzir coisas de muita qualidade.