Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 30 de outubro de 2010

Comentário sobre as eleições

Este texto deveria ter sido um comentário no blog do Bruno Ribeiro, mas foi ficando tão longo que resolvi publicá-lo aqui. Sugiro, àqueles que buscarem maior compreensão das coisas, que leiam o texto dele antes de continuar aqui.

Concordo que não é hora de a militância petista descansar, mas acredito que haja pouca chance de uma reviravolta no que indicam as pesquisas. A última chance dos tucanos, que poderia ter sido o debate da Globo, foi uma coisa tão idiota e inócua que acabou favorecendo a candidata do governo, já que não mudou a decisão prévia de ninguém, nem mesmo a indecisão dos indecisos.

Concordo, também, que esta foi a campanha mais baixa dentre as que presenciei e isso acabou provocando, em mim, se não alguma decepção, ao menos algumas surpresas.

Não me decepcionei com a mídia e com a maioria dos políticos envolvidos na campanha, pois já não nutria nenhuma ilusão a respeito do PSDB e de José Serra. Fiquei surpreso, entretanto, com o voto de alguns amigos que insistiram na opção tucana ou mesmo no voto em Marina, principalmente depois que a campanha tomou o rumo que tomou e que a sordidez da oposição ficou tão desmascarada.

Não cheguei a perder nenhum amigo, já que consegui respeitar a opinião diversa, embora tenha tido algumas discussões ríspidas com muitos deles. O texto do Bruno, entretanto, me alertou para o perigo de que algum amigo tenha me "perdido" já que no meu caso, corri um risco duplo, pois tive divergências nas duas direções. A maioria continua me cumprimentando e, até agora, nenhum deles mudou de lado na calçada ao me avistar andando na rua. Espero que isso não aconteça.

Vou votar em Dilma e vou torcer por sua vitória, mas, certamente, não vou sair por aí comemorando, já que não nutro uma expectativa tão otimista assim.

O lado positivo desta campanha (e desta vitória) vai ser a de soterrar uma parcela da classe política representada pelo DEM (ou PFL, ou PDS, ou ARENA, como queiram), mas isso ainda é pouco, em minha opinião. Se eu posso nutrir alguma esperança a respeito do futuro governo de Dilma é a de que outros grupos, tão maléficos como este, sejam, também, alijados da nossa realidade e tenham seu espaço diminuído. Foi magnífica a atuação da jovem militância petista, apesar da bobeada no final do primeiro turno. Gostaria, entretanto, de ver esta tenacidade da militância dirigida para que se soterrasse da vida pública, por exemplo, a hegemonia da família Sarney que, há muitos anos castiga o povo maranhense. Me incomoda muito perceber que Roseana só conseguiu ser eleita por causa do apoio de Lula, o que impediu a ida de Flávio Dino, do PC do B, para o segundo turno. O mesmo apoio garantiu a Renan Calheiros uma cadeira no Senado por Alagoas e impediu que Heloisa Helena conquistasse este espaço. E assim como estes casos, outras famílias e outros grupos dominam o Norte e o Nordeste, justamente as regiões em que Lula tem mais apoio e que levarão Dilma à vitória.

Estes grupos têm que ser dizimados da vida pública brasileira. Se isso não acontecer, teremos o Brasil de sempre, injusto, mesmo quando cresce. Dilma pode avançar neste sentido. E é neste sentido que alimento alguma esperança de que seu governo possa ser melhor que o de Lula. Do contrário, será mais uma decepção.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ainda, as eleições

O caráter de Marina

Terminada a contagem dos votos, os dois candidatos classificados para o segundo turno correram em direção a Marina Silva para implorar seu apoio. Ela ouviu a ambos e disse que se manifestaria em 15 dias. Declarou que não quer se render ao velho jeito de fazer política. Ocorre que, ao pedir os tais 15 dias para se pronunciar, ela está fazendo exatamente o que há de mais antiquado em política, ou seja, entrar no jogo do toma lá, dá cá, negociando cargos de primeiro escalão em troca de apoio. Esta história de que quer checar qual das duas propostas tem mais compromisso com um desenvolvimento sustentável é pura balela. Ela sabe muito bem o que representam as candidaturas de Serra e de Dilma. Mais honesto seria fazer como fez Gabeira que já se bandeou pros lados dos tucanos (lado do qual, aliás, nunca saiu). Marina, entretanto, preferiu barganhar com o crédito que acredita ter, junto à sociedade, usando seus milhões de votos como garantia. Não acho que ela esteja com essa bola toda.

Acredito que sua votação tenha trêsorigens: primeiramente, o voto daqueles que se seduzem com o discurso ambientalista. Só que a posição destes eleitores é um tanto independente de Marina e, acredito, dividem-se ao meio, na hora de escolher entre Dilma e Serra. Em segundo lugar há os votos dos evangélicos e, neste caso, estou seguro que eles migrarão integralmente para o candidato da oposição. Por fim, há os votos daqueles que iriam votar em Dilma e entraram no conto da onda verde, certos de que a candidata governista estava com a vitória garantida.

Somando tudo isso, é bem possível que Serra obtenha, dos eleitores de Marina, mais votos do que Dilma. Mesmo assim, o mais provável é que a candidata de Lula se eleja. Principalmente se a coordenação da campanha petista não dormir no ponto, novamente.


A ressurreição de Serra

Muito menos por méritos próprios e mais pelos votos em Marina e de uma bobeada da coordenação da campanha petista, o candidato da oposição à presidência da república ganhou uma sobrevida. Junto com ela veio, de bandeja, uma onda de otimismo que, talvez, não tenha razão de ser.

Para provocar uma reviravolta nas tendências que se mostram, há mais de 6 meses, em favor da candidata governista, seriam necessários muito mais votos do que a parcela evangélica do eleitorado que foi desprezado pelo comando petista. Para vencer a eleição, Serra teria que fazer tudo o que não fez durante toda a campanha. Teria que desprender-se do DEM e escolher outro vice, teria que apresentar propostas mais consistentes e, mais do que isso, teria que apontar quais os aspectos negativos do governo Lula que ele corrigiria. Isso é uma missão impossível, já que, justamente o que há de mais criticável no atual governo é justamente aquilo que se assemelha ao governo FHC. É a condução da economia à moda Armínio Fraga, é o seu ministro da defesa, tucano até a última pena, é a política entreguista de seu ministro dos esportes, absolutamente subordinado aos interesses da CBF e ao COB, dos ilustres Ricardo Teixeira e Carlos Arthur Nuzman.

Para provocar uma reviravolta, ele teria que contar, realmente, com o apoio de Aécio Neves e nada indica que isso interesse ao político mineiro, já de olho em 2014 e já pensando em como disputar com Geraldo Alckmin, outro que, pela mesma razão, não tem nenhuma motivação para ajudar Serra.

Para vencer a eleição, Serra teria que não ser Serra.


Dilma, o PT e o salto alto

O resultado das eleições, aparentemente, causou certo desânimo na alma dos petistas e, sobretudo, na candidata à presidência. Provavelmente a decepção aconteça muito menos pelo resultado, absolutamente favorável, ainda, do que pela percepção de uma bobeada no finalzinho dos acréscimos do segundo tempo do jogo. E aí vem aquela enxurrada de justificativas, como a onda de boatarias sobre a suposta opinião da ex-ministra sobre o aborto, a bagunça do STF e a tentativa de manobra de Gilmar Mendes no lance dos documentos com foto, a tal da onda verde incensada pela mídia, enfim, alguns golpes baixos deferidos no final da luta.

A culpa, entretanto, é toda do PT e de sua soberba. Ou será que alguém imaginou que, na reta final, os golpes baixos não viriam? Será que não tinha ninguém no comando da campanha que fosse capaz de dizer que deveria ter sido feito um trabalho mais consistente com os eleitores evangélicos, ainda mais tendo um candidato ao senado ligado à igreja Batista? Alguém achou que a mídia, que operou suas ferramentas durante toda a campanha, iria arrefecer seu ânimo na reta final?

O que aconteceu é que o PT e sua candidata bobearam. Acreditaram que bastaria posar ao lado de Lula e estaria tudo resolvido. Como se ele fosse um santo milagreiro, já que muita gente o beatifica. De qualquer forma, isso não bastou. Não bastou e teremos uma disputa no segundo turno. E isso vai acontecer contra uma oposição que, aparentemente, encontrou o caminho do tesouro. Uma oposição que se encheu de otimismo.

Para vencer (e vencer ainda está fácil), a candidata e os petistas terão que ser mais diligentes, mais atentos, menos burros. E terão de descer do salto alto.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O engodo Marina Silva

O debate de ontem, na Rede Globo, foi muito mais enfadonho do que eu poderia prever. Confirmou o que já se havia visto nos demais debates, com Dilma e sua crônica dificuldade de se expressar diante de câmeras e de platéias, e Serra, embora bastante à vontade no púlpito, herança dos anos de experiência em salas de aula, utilizou seu tempo e espaço sem pronunciar, ao menos, uma frase que tivesse alguma utilidade. De Plínio nem quero falar. Gostaria, apenas, de sinalizar minha tristeza ao vê-lo submeter uma biografia relativamente respeitável a um papel tão ridículo.

Se houve alguma utilidade no debate de ontem, foi a de mostrar a falta de consistência no discurso de Marina Silva.

Me causa grande estranheza o fato de ela ostentar mais de 10% da preferência do eleitorado como apontam as pesquisas. Custo a crer que essa pequena multidão esteja, realmente, seduzida por suas propostas. Só me resta acreditar que as razões da escolha de parte deste eleitorado sejam outras.

Se o motivo deste voto é levar Serra ao segundo turno, seria mais fácil, então, votar no candidato tucano de uma vez, sem precisar recorrer a um caminho tão indireto.

Pode haver, por parte do eleitorado, um desejo de que haja segundo turno, vontade absolutamente legítima para quem ainda não conseguiu avaliar propostas e definir com qual candidato mais se identifica. Para isso, não precisa votar em Marina. Pode-se votar em Plínio, em Emayel ou até mesmo em Levy Fidélis, aquele do trem voador e das dentaduras.

Pode ser, entretanto, que este eleitor se identifique com a causa ambientalista e com o discurso do PV. Se é esse o caso, o mais acertado é votar nos candidatos do partido para deputado e no Ricardo Young para senador, em São Paulo. Seria mais útil para a natureza e produziria, no Congresso, uma oposição mais respeitável do que temos hoje.