Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 5 de setembro de 2010

O pior do governo Lula

Apesar de reconhecer mais virtudes do que defeitos no governo Lula, sempre fiz questão de expressar minhas críticas e meu descontentamento com certos aspectos e setores de sua administração, embora isso tenha sempre provocado certo patrulhamento ideológico. Sigo, entretanto, convencido de que a crítica ainda é o melhor dos remédios para as doenças que afligem a política.

Próximo do fim e com a eleição de Dilma garantida, me parece este, o momento propício para tentar exprimir o que vi de pior em seu governo.

Reconheço e elogio a condução da política externa, principalmente quando foi focada na tarefa de tornar o Brasil mais versátil no que diz respeito ao comércio exterior, menos dependente da relação com os parceiros tradicionais, buscando novos mercados e, principalmente, colocando o nome do país numa posição de mais visibilidade, do ponto de vista comercial. Quando enveredou pelas questões políticas, entretanto, não foi, assim, tão feliz.

Teve a lucidez de frear a avidez privatizante dos governos anteriores, reequipando, tecnicamente, a Petrobras, tornando-a, novamente eficiente, embora não tenha conseguido (ou tentado) diminuir a cultura de corrupção que permeia as entranhas da estatal. Conduziu a economia de forma conservadora, o que levou o Brasil a escapar da crise de 2009, mas essa timidez na condução fez com que os avanços sociais, que existiram, reconheço, não tenham ocorrido na velocidade que todos desejávamos e que eu, particularmente, enxergo que seriam possíveis, dadas as condições políticas. Mais tímida ainda, foi sua posição em relação ao resgate de nossa história na questão dos direitos humanos vilipendiados na época da ditadura militar. Os dois exemplos de timidez foram bravamente defendidos pelo presidente do Banco Central e o Ministro da Defesa que, embora sejam filiados a partido da base governista, é difícil não identificar uma plumagem tucana sobre suas peles.

Pior foi a condução da política para os esportes conduzida pelo ministro Orlando Silva que, por ingenuidade, incompetência ou má fé, que seja, associou-se ao que há de mais antiquado e mais venal nesta área, capitaneada por Ricardo Teixeira da CBF e Carlos Arthur Nuzman do COB, com quem o governo nunca poderia ter se associado.

Muito pior do que tudo isso, entretanto, pior que as trapalhadas do Itamarati, que a condução frouxa da política de avanços sociais, pior do que a convivência com as más companhias no mundo do esporte e da política de forma geral, mais grave do que tudo isso, o pior, disparado, do que ocorreu no governo Lula, foi a atuação da oposição.

O PT sempre soube fazer oposição. Pode ter sido equivocado em alguns episódios, radical em outros, até mesmo ingênuo num sem número de situações. Sempre foi, porém, diligente e aguerrido. E mesmo em épocas em que era evidente que o PT não se elegeria para os cargos executivos, eu sempre defendi a necessidade de que tivéssemos, ao menos no legislativo, uma representação contundente da oposição. Acredito, firmemente, que foi isso que fortaleceu nossa democracia.

O que se viu, nestes 8 anos de governo Lula, infelizmente, foi uma oposição indolente, irresponsável ou colaboracionista, à esquerda e à direita.

À sinistra, grupelhos como PSOL ou PSTU não conseguiram, nem mesmo, resolver seus conflitos internos e nunca tiveram capacidade de mostrar à sociedade mais do que devaneios juvenis. À destra, PSDB e DEM nunca tiveram ânimo para imprimir uma oposição sistemática ao governo Lula.

Há dois elementos, fundamentalmente, que motivam um partido de oposição. O primeiro é ideológico, programático, movido pela convicção de que tenha uma proposta melhor do que a da situação. O segundo é, pura e simplesmente, o desejo de apropria-se do poder.

A motivação de PSDB e DEM encaixa-se no segundo caso, já que o governo Lula, sob o ponto de vista destes partidos, só teve o defeito de não ser deles. Nada que foi feito no governo do petista contrariou interesses dos componentes destes partidos e dos segmentos defendidos por eles. Ou alguém pode afirmar que os bancos e as grandes empreiteiras tiveram alguma perda nos últimos anos?

Sei que o momento é de comemoração para a militância petista e por isso, não tenho a ingenuidade de cobrar uma postura diferente daquela que os torcedores de futebol têm quando seu time é campeão, mesmo jogando feio. Sei que o momento é de comemorar. Só que tem outro campeonato no próximo ano e a folga com que Dilma será eleita, deveria servir de lastro para que ela pudesse governar com mais independência das relações políticas espúrias, como não foi o caso do governo Lula. Para que isso aconteça, será necessário que haja uma cobrança mais forte no sentido de que se imprima, de verdade, os avanços de que o Brasil precisa. Não tenho esperanças de que essa pressão venha da oposição instituída. Pode parecer absurdo (e é), mas a oposição ao governo terá de vir de dentro do próprio governo.

3 comentários:

Lord Broken Pottery disse...

Arnaldo,
Não sei se a Dilma, com a representatividade enorme que os votos lhe darão, conseguirá ter alguma folga política. Até por que no Brasil as coisas não funcionam bem assim. Há que se lembrar que o vice dela, Michel Temer, pertence a um partido que é o maior do Brasil e sempre foi ávido de poder. Não a considero tão hábil politicamente (e quem a conhece bem sabe que estou certo) para contornar alguma crise que eventualmente apareça. Vamos ficar de olho e ver o que acontece.
Grande abraço

cesar disse...

Vc acredita nisto que voce esta escrevendo??
De onde vc tirou que Dilma esta eleita??
Que estoria e essa de "aliancas espurias" ??Conforme o noticiario recente a bandidagem esta muito bem instalada na Casa Civil da Dilma...
Se for desinformacao ou ingenuidade , sugiro que mude suas fontes ,leia mais...
De qualquer maneira , nao vou critica-lo,todos tem que arranjar uma maneira de ganhar a vida....

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Cesar,

Acredito que Dilma será eleita baseado no que dizem todos os institutos de pesquisa e, nas últimas eleições, salvo raras exceções, eles não têm errado. Ela deve ser eleita, muito provavelmente, já no primeiro turno.

Sobre ganhar a vida, bem que eu queria ganhar alguma coisa com o que escrevo, mas isso não acontece. Não sei de onde você tirou idéia tão esdrúxula!

Uma última coisa. Há muito tempo não se utiliza a palavra estória. Não sei que livros e jornais você anda lendo, mas devem ser muito antigos. O que se recomenda é o uso do termo história. Sempre.