Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mago das palavras

O livro A letra Brasileira de Paulo César Pinheiro – Uma jornada musical, de Conceição Campos, impressiona pelos números. Foram catorze anos entre o início da pesquisa e a edição do livro, durante os quais a autora contou mais de 2000 letras, feitas para melodias de mais de 100 parceiros, quase metade das quais gravadas por mais de 500 intérpretes. A outra quase metade, continua inédita.

Mas quando se fala em Paulo César Pinheiro não são os números que importam e sim as palavras. Não há, em minha opinião, quem lide melhor com a língua portuguesa do que este carioca brasileiro quando está imbuído da tarefa de encaixá-las numa melodia. Sou absolutamente fanático por suas letras. E foi por isso que meus olhos brilharam quando, na fila de espera da noite de autógrafos do livro da Soninha e do Baptistão, se depararam com este livro na estante. Não tive dúvidas, coloquei o volume com 410 páginas debaixo do braço e continuei na fila cheio de nova excitação.

230 páginas não seriam suficientes para falar de obra tão larga e importante. A primeira coisa que a autora declara, no livro, é sua total incapacidade de lidar com a pesquisa enquanto o pesquisado continua produzindo letras e poemas numa velocidade muito maior do que ela consegue trabalhar. Logo ficou claro, pra ela, que essa empreitada não teria fim. Por isso mesmo, depois de um primeiro capítulo biográfico, ela decide abandonar a cronologia como linha mestra da exposição de seu texto para adotar o critério regional da obra do escritor. Adotando este acertado critério, passeia pelas regiões que estão presentes em suas letras e poesias e onde ele se relaciona com seus principais parceiros.

Se o critério foi acertado, ela errou na mão ao tentar dar certo equilíbrio entre cada uma das regiões, como se a obra do poeta fosse uma coisa linear. Com isso, acaba passando a impressão de que suas parcerias com o paraense Paulo André Barata sejam tão importantes quanto as com Baden Powell, Mauro Duarte ou João Nogueira. Não são, absolutamente. Nessa tentativa de equilíbrio, consegue diminuir a importância de um parceiro como Dori Caymmi, responsável por algumas das mais belas parcerias. E, pecado mortal, ela, praticamente, despreza os sambas com Eduardo Gudin, um dos seus parceiros mais importantes, ao desprezar, igualmente, a cidade de São Paulo na sua divisão regional da obra de Paulo César Pinheiro.

Mesmo assim, e apesar de tudo isso, o livro é delicioso de se ler já que seu maior acerto foi colocar, ao lado da narrativa, mais de 100 letras de música e poemas do escritor. As 180 páginas finais são reservadas para fotos, listas de letras inéditas, registros de gravações das músicas. Nem 230, nem as 410 páginas do livro seriam suficientes para expressar toda a obra deste grande mago das palavras. Mas como eu já disse, não se trata de número. Trata-se de letra. A letra brasileira.

2 comentários:

Unknown disse...

É o maior de todos. De todos.

Lord Broken Pottery disse...

Arnaldo,
Quando após lermos uma reenha, conseguimos ter uma boa idéia do livro, ela foi muito bem feita. Já percebi que é um dom que você tem. Deu-me vontade de comprar a obra.
Grande abraço