O livro O Mito das Nações, de Patrick J. Geary, procura justamente desmistificar a noção de nacionalismo que vem sendo utilizada, ao longo dos tempos, pra justificar inúmeros conflitos bélicos em todo o mundo. Desde a II guerra mundial, até os mais recentes conflitos no leste europeu ou no oriente médio, o nacionalismo vem sendo usado como motivação para justificar a intolerância que sempre serve de estopim para deflagrar as mais variadas guerras.
O livro nos mostra que as noções de nacionalismo, utilizadas, não se sustentam em si e não resistem a uma análise historicamente mais consistente. Mostra ainda que a formação das nações, desde o longínquo império romano, passando pelas invasões bárbaras, deveu-se menos a questões de etnia ou religião, do que a interesses comerciais e de detenção de poder.
Isso me fez lembrar uma passagem ocorrida, alguns anos atrás, numa visita que fiz a uma fábrica em Santa Catarina. Vi um operário com uma camiseta defendendo o separatismo dos estados da Região Sul do resto do Brasil. Não resisti e fui conversar com o rapaz. O que ele defendia era a teoria de que, por serem mais ricos, os estados do Sul não deveriam “sustentar” os estados pobres do Norte e do Nordeste e que, se fossem um país independente, sua população teria maior bem estar.
Eu argumentei que, mesmo que isso fosse verdade, a solução não é assim tão simples. Mesmo porque, o próximo passo, após a separação, seria a constatação de que, dos três estados, um deles seria o mais desenvolvido e rico. O Estado de Santa Catarina, por exemplo, poderia considerar-se superior aos demais estados e isso ensejaria um movimento de separação. E se acaso isso acontecesse, seguindo a mesma lógica, alguma cidade de Santa Catarina iria se sentir superior ao restante do estado. Assim, o município de Joinville, por exemplo, poderia iniciar um processo de separação do resto do estado e depois disso, um determinado bairro, uma rua, uma quadra.
A solução não tem essa direção. Muito pelo contrário. Em minha opinião, o caminho certo é o inverso. A diversidade enriquece e proporciona maiores possibilidades de crescimento. E mesmo que respeitemos a diversidade cultural (e devemos respeitá-la), as populações não devem ser segregadas em função de hábitos ou origem geográfica. Sendo assim, devemos estimular a convivência entre o gaúcho e o potiguar. Entre o mineiro e o acreano. E vou mais longe ainda. Devemos buscar a integração entre as populações do Brasil e dos demais países da América do Sul. A convivência do nosso povo com o povo boliviano ou venezuelano deve ser estimulada. Isso é muito mais importante que as relações entre os governos dos países. Pois o povo do Brasil é mais importante do que Lula, como o povo da Venezuela é mais importante do que Hugo Chaves e mesmo o povo norte-americano tem mais importância do que Bush.
O que divide os homens não é a religião, nem a etnia e muito menos a origem geográfica. O que divide os homens, de verdade, é a classe social. Nesse sentido, nossa população miserável está tão ligada aos moradores pobres de New Orleans quanto a elite da Avenida Paulista está próxima do pessoal de Wall Steet. E da mesma maneira, um eventual bom relacionamento entre o governo Lula e o governo de Fidel Castro não garantem a integração entre o povo brasileiro e o povo cubano.
Esta integração deve ser buscada pela sociedade e isso só vai ser possível no dia em que a intolerância e o preconceito (como sempre, burro) forem vencidos.