Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Lidando com as palavras

Nem sempre concordo com as opiniões de Nelson Motta. Sua preferência musical por tudo o que é Pop, ou seja, tudo o que é vendável, está bem longe do meu critério de escolha daquilo que quero ouvir. Sua tendência de encarar a música como um produto, independente da qualidade, faz com que numa canção, seja mais valorizada a sua capacidade de ser comercializada do que sua letra ou melodia.

Não posso negar, entretanto, que ele sabe lidar com as palavras. Autor de inúmeras letras medianas, foi capaz de pelo menos duas obras primas: O Cantador e Saveiros, ambas em parceria com Dori Caymmi.

Além disto, é autor de dois livros interessantes, narrando experiências pessoais: Confissões de um torcedor, onde conta sua participação na cobertura das copas de 82, 86, 90 e 94 e Noites Tropicais, em que narra sua ligação com o mundo da música. Com tarimba forjada em muitos anos de prática jornalística, seu texto flui fácil e agradável. Esta prática, em geral, não garante qualidade quando um escritor cisma de se aventurar na seara da ficção. E é neste aspecto que Nelson Motta surpreende.

Em 2002, lançou seu primeiro romance, O Canto da Sereia e dois anos depois, Bandidos e Mocinhas, ambos policiais. Agora, acaba de lançar seu terceiro romance, Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo. Neste livro, o autor faz uso mais profundo da sensualidade para pontuar sua narrativa. Descreve um Rio de Janeiro do comecinho da década de 1960, prestes a entrar no período de falso moralismo do governo de Jânio Quadros. A cidade que o livro retrata respira os últimos ares da época de glamour e liberdade de JK . Era a época da Bossa Nova e do namoro da nossa música com a americana. É a época em que a classe média brasileira começa a sonhar mais fortemente com os confortos do American way of life. Misturando bossa nova, futebol e carnaval, os personagens envolvem-se, do começo ao fim, num jogo erótico, sem que nada, na narrativa, precise ser explícito.

É um livro de amor, amor verdadeiro, que anseia por liberdade. Como todo amor deve ser.

2 comentários:

Unknown disse...

Eu tenho os dois pés atrás com o Nelson Motta. Para mim ele é o principal responsável por essa "popização" da MPB.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pois é, Bruno. Também acho ele meio babaca. Na verdade, ele sempre foi um cara meio deslumbrado com a sociedade americana e por isso, idolatra essa coisa do mercado. Aliás, muita gente tem entrado nessa, como o Gil, por exemplo.

Mas o livro do cara é legal. Eu, pelo menos, achei. Uma boa leitura de férias. E mesmo entre algumas músicas medianas que ele fez a letra, em gosto bastante.